terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Oscar não vem pra cá. Mais uma vez












Como mostra a notícia acima, mais uma vez o Brasil não terá um filme na categoria de melhor filme estrangeiro na cerimônia do Oscar. Em 2009, o filme da imagem acima, Ônibus 174, não conseguiu ficar entre os 9 pré-selecionados.
Por que será que o nosso cinema, que se levantou das cinzas no final da década passada e passou a produzir filmes de excelente qualidade não consegue, salvo algumas exceções como Central do Brasil e O Quatrilho, nem participar da maior festa do cinema? Por que nossos filmes não sensibilizam os especialistas estadunidenses como A Vida é Bela, do italiano Roberto Benigni, conseguiu no ano que bateu Central do Brasil, o filme brasileiro que chegou mais perto da estatueta até hoje?











Em primeiro lugar, é necessário reconhecer a qualidade das produções dos outros países. A Vida é Bela, é um filme fantástico e Central do Brasil deu azar de encarar um adversário desse quilate. Talvez em outro ano o filme teria chances de levar a estatueta. Mas já faz alguns anos que nenhum filme nosso chega nem perto disso. Por que?
Acredito que nossas histórias são boas e os filmes bem produzidos, mas não as acho comoventes, e isso faz a diferença. Nossa história, ao invés de mostrar nossos problemas e dar esperanças de um mundo melhor e de que a vida é bela (o trocadilho é intencional), mostram uma realidade cruel, fria e sem esperanças. Ao invés de comover, nossa história assusta quem não faz parte dessa realidade.
Essa é a tônica do cinema nacional nos últimos anos: Carandiru, Cidade de Deus, Cidade dos Homens e Tropa de Elite são filmes nessa toada e o concorrente deste ano Ônibus 174, que conta a história do sequestro deste ônibus que chamou a atenção de todo o Brasil segue a linha. Pra nós, uma história fascinante, que merece reflexão e capaz de lotar salas de cinema. Para quem é de fora, um susto, é desagrádavel assistir a uma realidade assim.


Isto me lembra um fenômeno que acontece nas novelas brasileiras. O Brasil adora Manuel Carlos e suas histórias no Leblon. Novelas como Mulheres Apaixonadas tem uma trilha sonora gostosa repleta de boas músicas, um mundo fácil e personagens fúteis, mas que vivem felizes. No entanto, estas novelas perdem feio no Ibope no estado do Rio de Janeiro para as novelas da Record, que retratam a realidade da favela. Por que este fenômeno não se estende até o restante do país? Porque o mineiro, o goiano, o gaúcho e o baiano não querem ver a dureza da favela, mas a vida boa do Leblon. Como não se vem na favela, preferem imaginar o seu mundo como o mundo das novelas de Manuel Carlos. Como não pertencem a nenhum dos dois mundos, acham melhor sonhar que vivem no segundo. Não foi a toa que a novela Duas Caras, da Globo criou um núcleo na favela. Foi uma clara tentativa de resgatar a audiência perdida no Rio de Janeiro seguindo a estratégia da Record, missão bem sucedida.
Esta receita, que chegou aos cinemas, no entanto, não serve como objeto de exportação. Como já dito, as pessoas que não vivem esta realidade não se sentem bem em conhecê-la e isto enfraquece o cinema nacional, embora o mesmo arrebate prêmios nos festivais europeus que premiam o cinema documentário, aí sim, Tropa de Elite e Ônibus 174, tem suas chances. mas para ganhar a estatueta hollywoodiana é necessário ser mais lúdico e menos sangrento. É necessário fazer sonhar com um mundo melhor. Central do Brasil fazia isso com a professora que escrevia cartas para os analfabetos.
Apenas mudando a receita de nossas produções, teremos chance de ganhar o Oscar. Mas aí fica a dúvida: É necessário mudar a cara dos nossos filmes por causa de um prêmio. Eu, sinceramente, acho que não.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que lucidez!
Excelente comparação!
A verdadeira realidade e aquela que quer ser vista pelos que estão mais distanciados...

E que os filmes sejam feitos para expressar as idéias dos diretores e não para agradar aos jurados do oscar!

edunascjr disse...

Bom post, mas achei um exagero dar tanta atenção ao Oscar. Simplesmente essa festa não é uma festa para brasileiros. Primeiro, pq não há um júri que escolhe os melhores mas sim um jogo político de "vote no meu q voto no seu". Se quer ver nosso cinema ser reconhecido, bastar se ligar nos festivais europeus. Esses sim tem juris especializados. Aliás, nem precisa ir pra Europa. Basta olhar o Globo de Ouro. Acostumamos demais com o Oscar. Esqueça-o.

Apesar do cinema ter renascido, acredito que esses ultimos filmes, apesar de bons, batem sempre na mesma tecla. Aí, não há espectador que aguente tanto tiro e tapa na cara. Nós estamos acostumados, adoramos sangue,como bem foi dito, mas ninguém é obrigado a estar e a gostar.
Achei a comparacao com Manuel Carlos meio forçada ao se falar de cinema.

Vamos nós darmos atenção ao nosso cinema e esquecer festinhas particulares. Há primeiro 180 milhoes para convencermos. Depois pensamos no resto!
Abraços!

 
BlogBlogs.Com.Br